OESP, Nacional, p. A4
29 de Mai de 2009
Minc acusa ministros de jogo duplo no Congresso contra lei ambiental
Um dia depois de chamar ruralistas de 'vigaristas', titular do Meio Ambiente reclama de Dilma Rousseff
Leonencio Nossa, BRASÍLIA
Um dia após chamar os empresários do agronegócio de "vigaristas" e de criticar indiretamente o colega da Agricultura, Reinhold Stephanes, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, virou ontem as baterias da polêmica para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e, por tabela, acertou três outros ministros - Dilma Rousseff (Casa Civil), Edison Lobão (Minas e Energia) e Alfredo Nascimento (Transportes) .
Ao final de uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), Minc acusou os colegas de ministério de não respeitarem acordos e fazerem jogo duplo no Congresso. "Vários ministros combinavam uma coisa aqui (com Lula) e depois iam ao Parlamento, cada um com a sua machadinha, patrocinar emendas que esquartejavam e desfiguravam a legislação ambiental", disse.
Minc negou que tenha intenção de deixar o governo. "Não condicionei a permanência no governo a absolutamente nada", afirmou. O Estado apurou que o presidente não gostou das novas críticas e decidiu que, "na hora apropriada", vai chamar Minc para conversar sobre os ataques aos colegas e ao PAC.
"O que eu disse para o presidente é que completei um ano, servi lealmente, resolvemos vários imbróglios, grandes licenças, e vamos resolver várias outras e que uma série de questões estavam tirando a sustentabilidade ambiental e a política dos ministérios", contou Minc. "Ele (Lula) disse que não vai permitir que a área seja enfraquecida."
O ministro do Meio Ambiente está incomodado com obras consideradas importantes pelo governo, como a rodovia BR-319 e as usinas hidrelétricas no Rio Araguaia, além da possibilidade de produção de cana no Pantanal. Ele disse que concedeu muitas licenças ambientais - citou as obras das hidrelétricas de Belo Monte e Jirau -, mas não houve compensações e solidariedade para área ambiental. "Foi uma conversa a sós, tête-à-tête, olho no olho e eu falei para o presidente que a área ambiental estava sendo muito agredida no Parlamento, na sociedade, desfigurando projetos ambientais sobre estradas, sobre licenciamento, sobre a questão da regularização fundiária."
Sobre a BR-319, Minc afirmou que não concorda com a restauração e asfaltamento de rodovias na Amazônia. O asfaltamento da BR-319 é defendido pelo ministro Alfredo Nascimento, que é senador licenciado pelo PR do Amazonas e potencial candidato ao governo do Estado. Minc disse que a rodovia atravessa "o coração da Amazônia", uma das áreas ainda intactas da floresta. "Eu disse (ao presidente) que não abriria mão disso", relatou.
Na entrevista de ontem, Minc voltou a criticar os ruralistas. "Eu adverti os agricultores familiares que setores dos ruralistas que desmatam muito, têm monocultura, usam agrotóxicos e fazem queimadas estão aterrorizando os pequenos produtores para jogá-los contra as leis ambientais", explicou. "Disse para eles não ouvirem esse canto da sereia, que a boa aliança deles era com os ambientalistas."
Minc ainda comentou a reação de deputados da bancada ruralista com sua declaração de que eram "vigaristas". O goiano Ronaldo Caiado (DEM-GO) chegou a dizer que Minc tem ligação com o tráfico carioca.
"Fui mal interpretado por alguns parlamentares e fui ofendido por eles", disse Minc ontem. "Mas estou acostumado com embate parlamentar."
Cronologia
As polêmicas de Minc no ministério
13/5/2008
Após 5 anos no cargo, Marina Silva pede demissão do Ministério do Meio Ambiente. Ela teve vários atritos no governo
14/5/2008
Planalto anuncia Carlos Minc como substituto de Marina. Ele hesita, mas aceita
21/5/2008
Minc diz que desmatamento aumentou e provoca o governador Blairo Maggi. "Vai ser um dado ruim. E, para variar, mais de 60% em qual Estado? Quem sabe? Mato Grosso"
22/5/2008
Começam os embates entre Minc e Mangabeira Unger, que afirma ser prematura a proposta de criar Guarda Nacional para Amazônia
Blairo Maggi contesta Minc
27/5/2008
Minc assume e diz que não será "carimbador maluco" de licenças ambientais
20/6/2008
Minc abre polêmica ao dizer que assentamentos da reforma agrária vendiam madeira a madeireiros ilegais
24/6/2008
"Acabou a moleza. Boi pirata vai virar churrasco do Fome Zero", anuncia Minc, ao divulgar a apreensão de 3.100 cabeças de gado no PA
26/9/2008
Criticado pela presença constante na mídia, Minc participa de operações. Ele vai a Caruaru (PE) comandar a soltura de pássaros apreendidos pelo Ibama
13/1/2009
Minc critica o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, e diz que ele "radicalizou muito" ao acabar com grupo que discutia mudanças no Código Florestal
16/1/2009
Stephanes e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, se unem contra Minc
15/4/2009
Com a aprovação do Código Ambiental de Santa Catarina, Minc ameaça o governador
Luiz Henrique com o uso de forças federais. Luiz Henrique avisa a Minc que usará a polícia para proteger os cidadãos
9/5/2009
O ministro participa de uma marcha no Rio, com mais de mil manifestantes, para defender a legalização do uso da maconha no Brasil. Minc diz que "o usuário não pode ser tratado como criminoso"
27/5/2009
Minc ataca ruralistas. "Os ruralistas encolheram o rabinho de capeta e agora fingem defender a agricultura familiar. É conversa para boi dormir. São vigaristas"
Ontem
Em conversa com Lula, Minc critica colegas de ministério
OESP, 29/05/2009, Nacional, p. A4
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